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  • Foto do escritorLarissa Duarte

Curso Marielle Franco auxilia preparação para o ENEM e pensamento crítico dos alunos

Realizadas todos os sábados, as aulas proporcionam a dezenas de alunos a oportunidade de se preparar para a prova com uma educação de qualidade




POR LARISSA DUARTE E VITÓRIA MEDEIROS


A Rede Emancipa é um projeto de educação popular que atende a estudantes pré-vestibulandos e alcança, principalmente, os de escola pública. Iniciado em 2007, no estado de São Paulo, o movimento funciona ao redor do Brasil e no Rio Grande do Norte possui três filiais: em Natal, Ceará-Mirim e Mossoró.

Na capital potiguar, a rede ainda é recente, está no seu terceiro ano de funcionamento. A sede está localizada na UERN, situada na Zona Norte, região próxima a lugares periféricos da cidade. Em Mossoró, o diferencial é que a Emancipa acontece como um projeto de extensão da UERN e possui o maior número de alunos entre todas as filiais do país.

Já em Natal o projeto leva o nome da vereadora carioca Marielle Franco, conhecida por defender os direitos humanos e ter sido assassinada em 2018. A escolha surgiu a partir dos próprios estudantes em conjunto com a coordenação.

O foco do projeto não limita-se a conteúdo para o ENEM, mas também envolve o desenvolvimento do senso crítico dos alunos. Além das aulas no formato tradicional - que acontecem todo sábado em período integral -, os professores promovem debates e rodas de conversas. Os assuntos variam, mas o enfoque é sempre questões sociais e os mecanismos para combater, como racismo e feminismo.



Roda de conversa que aconteceu no sábado (12 de outubro) sobre personalidades negras que foram apagadas na história do país. Zumbi dos Palmares e Teresa de Benguela foram alguns dos escolhidos para a discussão (Foto: Larissa Duarte/Caderno de Pauta)



Para a coordenadora nacional da Rede Emancipa, Tatiane Ribeiro, 30, a importância do curso ser localizado na Zona Norte está no maior alcance ao público de baixa renda:. “A gente sempre tenta se instalar em periféricas. Aqui começamos numa escola pública e a convite da UERN nos mudamos”, contou a responsável.

Uma história marcante para Tatiane, foi a de uma aluna de mesma idade que estava “super engajada” com o Enem, mas iria abandonar o curso porque conseguiu um emprego de auxiliar de cozinha e na época estava desempregada:. “Ela me mandou uma mensagem e eu fiquei super emocionada [...]. Ela é negra, então é o nosso chamado: eu estou voltando para a cozinha, estou voltando para a senzala. A gente tenta sair dela, mas sempre somos puxados de volta”, falou a coordenadora.

Nesse caso, um grupo se reuniu e impediu que a aluna trabalhasse nesse serviço. No momento estão ajudando com suas despesas e ela permanece estudando no Curso Marielle Franco, apesar da difícil situação.

A história da estudante não é um caso isolado. Devido a situação financeira da maioria dos estudantes inscritos no Emancipa é comum que hajam desistências. As aulas serem nos sábados foi uma das ideias pensadas para conciliar a vida dos alunos com o projeto, trabalho, escola ou família, pois dessa forma haveria maior frequência de participação.

O perfil dos alunos variam de jovens a adultos. Alguns ainda cursam o ensino médio, já outros abandonaram o estudo há anos e buscam no curso uma chance de retornar a sala de aula e tentar ingressar em uma universidade.

Como exemplo tem a aluna Nicole Holanda, 28, que passou anos distante do ambiente escolar e agora sonha em cursar algo na área da saúde. Para ela, o mais complicado é a adaptação na sala de aula. Por vezes ela relata ter dificuldades nos conteúdos apresentados por nunca tê-los visto na escola ou na vida: “A gente tem aprendido muito, aqui com eles. Não só sobre as matérias, né? Mas sobre tudo que tá acontecendo”, diz a estudante.



Turma atenta na aula de biologia ministrada pelos professores Dalvan Henrique (24), Carla Tatiane (20) e Renata Clicia (30) sobre divisão celular (Foto: Vitória Medeiros/Caderno de Pauta)



De acordo com as informações, todos os professores que lecionam no curso Marielle Franco são voluntários. O perfil desses educadores varia de acordo com cada filial da Rede Emancipa. Em Natal a maioria são estudantes, já em Ceará-Mirim são professores de rede pública. O máximo de gratificação que eles recebem são horas complementares nas grades curriculares, caso ainda estejam cursando algo.

Para a professora voluntária Renata Clicia, licenciada em Biologia pela UFRN: ‘’Aqui é uma forma, tanto de contribuir, quanto receber’’. A bióloga, que entrou no Emancipa no segundo semestre de 2018, avalia sua participação no projeto como um meio positivo de ganhar experiência, realizando o seu desejo pessoal de ser voluntária: ‘’Tem muita gente que entra, na Universidade, todos os anos, e eles acabam encontrando professores do Emancipa e agradecem bastante, dizem que o projeto mudou a vida deles. [...] O que mais me marca é essa gratificação. Saber que a gente plantou uma sementinha ali, que a gente contribuiu de alguma forma’’, completa Renata.



Tatiane fala sobre debate com os alunos sobre uma experiência de racismo estrutural que aconteceu no seu ambiente de trabalho (Foto: Larissa Duarte/Caderno de Pauta)



Mesmo com tudo que é realizado pela Rede Emancipa, ainda há muita resistência das famílias em apoiar aqueles que são alunos. Existem casos em que preferem ver o jovem procurando um emprego do que tentar uma vaga no ensino superior público.

“Nós não individualizamos nenhum fracasso e nem nenhum sucesso. [...] A gente tem que pensar quem é o perfil do nosso estudante. Ele não acredita que pode passar na universidade. E tem muita pressão externa para ele largar o cursinho: da família e dos amigos”, falou a coordenadora nacional Tatiane. “Você não vai passar, a universidade não é para a gente (as pessoas externas dizem). Elas não fazem por mal, porque não é totalmente mentira. A universidade não foi feita para os nossos alunos”.

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